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MDB vive um quadro de crise aguda, diz ex-governador Eduardo Pinho Moreira

Em entrevista exclusiva para a rede de veículos Adjori/SC e ADI/SC, o ex-governador confirma que desistiu da presidência da Executiva estadual e prevê que haverá um movimento de desfiliação se não houver mudanças na direção nacional do partido

ESTADO - 22/02/2019 08:56 (atualizado em 22/02/2019 08:56)

    O ex-governador Eduardo Moreira confirmou ter desistido de colocar seu nome para a presidência do MDB catarinense. Ele expressou a vontade de mais uma vez presidir o partido já no ano passado, mas condicionando a um consenso, ou seja, sem disputa entre chapas ou nomes. Entretanto, desde sábado está em viagem de lazer e estudos com sua esposa, Nicole, e ficará dois meses fora do país. Algo desaconselhável para o momento vivido pelo partido. “Sou médico cardiologista. Existem dois tipos de doenças: a crônica, que você pode deixar para tratar na semana seguinte, e a aguda, que exige intervenção imediata”, comparou. Com sua desistência, Moreira aponta consenso em torno do nome do senador Dário Berger na convenção do MDB-SC, inicialmente prevista para maio. 

    Moreira admitiu que o racha na bancada do partido na Assembleia Legislativa caracteriza crise aguda, diagnóstico que deu já na segunda-feira em reunião com lideranças emedebistas, inclusive o presidente, ex-deputado federal Mauro Mariani. Referindo-se aos companheiros de partido, o ex-governador disse que “eles andaram se mexendo”.

    “O MDB está meio dividido mesmo. Não só na Assembleia. E eu não quero estimular isso. É momento de submergir, acalmar as questões localizadas. Os mais antigos devem se envolver e é o que estou fazendo”. Por várias vezes presidente do partido no Estado, único no qual esteve filiado, Eduardo Moreira não acredita na saída de Cobalchini e Sopelsa para outra agremiação, como vem sendo aventado. Ele acha que erros evitáveis, como falta de diálogo, levaram à situação. “O Cobalchini se achava, entre aspas, credor de uma atenção especial do partido. O Mauro de Nadal se achava, entre aspas, em condições de ser o presidente da Assembleia, assim como o Sopelsa. Pretensões legítimas pelo histórico de cada um. Todos têm méritos. Mas a disputa interna expôs o enfraquecimento do MDB”, concluiu.

    Ao perceber essa divisão, o deputado Julio Garcia (PSD) “juntou os cacos do MDB” e procurou o bloco dos sete, com mais votos. “O Julio trouxe os nossos sete, pacificou o próprio partido, que tinha brigas internas até piores, e chegou à presidência da Assembleia. Agora é hora de reorganizar. Acredito na reconciliação dos nossos deputados”.

    Para agitar um pouco mais as linhas emedebistas, Mariani está para se licenciar da presidência, sem prazo definido para voltar. Se é que volta. Isso coloca Valdir Cobalchini no comando do partido, já que ele é o primeiro vice-presidente. A pergunta que fica é como ele exercerá o papel de conciliador se tem interesses diretos envolvidos na situação crítica da bancada? 

“Tem que tirar esse time de Brasília” 

    Eduardo Moreira não se limitou a analisar a situação do MDB estadual e fez críticas severas à Executiva nacional do partido. “Tem que tirar esse time de Brasília! Se ficar essa gente comandando o partido nacionalmente, Romero Jucá, Renan Calheiros, essa turma que está lá, vai ser mais um desestímulo para trabalharmos aqui embaixo”, disse, ao lembrar que já houve um movimento neste sentido, a partir do MDB-SC, e que agora está tomando mais corpo. A falta de consenso no Congresso Nacional demonstra isso. 

    A senadora Simone Tebet (MDB-MS) disputou internamente com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a indicação do MDB para a presidência do Senado. Entre os 12 votantes, cinco foram com a senadora, demonstrando a divisão. “Se é a Simone a nossa candidata, ela hoje seria a presidente do Senado e do Congresso Nacional. Uma mulher sem mácula, que nos garantiria posição importante. O Renan foi para a disputa, perdeu e deu no que deu”, reclamou.

    Outro exemplo foi a disputa pela liderança da bancada do MDB no Senado. O senador catarinense Dário Berger disputou o espaço, mas perdeu para Eduardo Braga (MDB-AM). “Essa turma lá de cima é difícil. Ninguém consegue romper as barreiras. Se a gente continuar sob o mesmo comando nacional, os emedebistas catarinenses têm que tomar uma posição radical, inclusive saindo do MDB. Há essa hipótese”, afirmou o ex-governador. A saída não seria apenas de Eduardo Moreira, mas de um grupo. E provavelmente numeroso. 

Já existe um partido de destino? Seria criada uma nova organização partidária?

    Estas respostas Moreira ainda não têm. “Absolutamente não existe qualquer conversa neste sentido. Existe apenas o fato de que sermos conduzidos por esse mesmo time lá de Brasília não está certo.” Para ele, a pecha de fisiologismo do MDB nacional se reflete e prejudica o MDB estadual. “Aqui nós não somos assim. Estávamos no governo anterior porque fomos eleitos para isso. No momento em que o governo mudou, continuaram apenas aqueles que têm destaques em suas carreiras públicas, caso do Leandro Lima, do Paulo Eli e do coronel Araújo Gomes”, enumerou, citando, respectivamente, os secretários de Estado da Justiça e Cidadania e da Fazenda, além do comandante da Polícia Militar, que estavam em sua gestão e foram mantidos na atual.

    O ex-governador acredita que o partido precisa apresentar posições mais firmes e sua expectativa é que a convenção nacional, que acontecerá antes da estadual, traga mudanças efetivas no comando do MDB. “Nosso limite é a convenção nacional. Não havendo mudanças na direção, certamente haverá um movimento de desfiliação do MDB. Esse sentimento não é só do MDB de Santa Catarina. Há um movimento forte, nacional, e que precisa ser liderado pela nossa bancada federal.”

    Neste ponto da conversa vieram alguns puxões de orelha. “Esse discurso que o Dário (Berger) fez aqui, de não participar do governo Moisés, tem que ser feito lá em Brasília também. Mas lá eles não fazem! O Osmar Terra é ministro (da Cidadania, MDB-RS) e o próprio Valdir Colatto está no governo (Serviço Florestal, MDB-SC). Um discurso lá, outro aqui... nós perdemos a eleição? Vamos para a oposição! Vamos reunir e unificar a bancada, analisar as propostas, votar de acordo com o que for importante, com posições firmes. E aqui em Santa Catarina deve ser da mesma forma.”

    Em um tom saudosista, Eduardo Moreira destacou que o MDB cresceu fazendo oposição à Arena, se colocando como opção para a população no período de bipartidarismo imposto pela ditadura civil-militar. Era, então, um partido com bandeiras - redemocratização, liberdade de imprensa, liberdade de reunião, Assembleia Constituinte. “Nós defendíamos causas! Quais bandeiras temos hoje? Temos que nos reinventar enquanto representação partidária e isso depende do comando nacional que, infelizmente, está nas mãos desses caras. Os mesmos que em 2010 me expulsaram do partido.”

    Moreira chegou a ser afastado do MDB-SC. A motivação foi a coligação com o DEM na primeira eleição de Raimundo Colombo. Ele só voltou depois de decisão da Justiça. “Quem trabalhou para a minha expulsão naquele momento foram o Moreira Franco, com voto do Michel Temer, do Renan Calheiros, do Eduardo Cunha... os mesmos que estão maculando a história do MDB.” 

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