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Apesar de melhoras no Mapa de Risco, transmissão da Covid-19 em SC é ‘extremamente grave’

Situação da doença no Estado ainda carece de cuidados e pode piorar caso o uso obrigatório de máscaras seja flexibilizado, alerta professor

Santa Catarina - 27/10/2021 22:59



Apesar da nítida melhora na situação da pandemia da Covid-19 em Santa Catarina nos últimos meses, como é possível observar pela última atualização do Mapa de Risco, que já conta com quatro áreas “no azul”, o caminho para a normalidade ainda deve levar um tempo.

Conforme ressalta o coordenador do Necat/UFSC e especialista em Políticas Públicas, Lauro Mattei, a taxa de transmissão da doença no Estado é “extremamente grave”.

Já o professor de Saúde Pública e pesquisador da Covid-19 na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Fabrício Menegon, reforça que a flexibilização do uso de máscara pode ser fator de “preocupação” para o cenário futuro da pandemia no Estado.

Melhora da pandemia

“Os dados, tanto da média móvel quanto da média móvel de casos, de óbitos, estão caindo. De fato estão caindo”, releva Lauro Mattei.

O coordenador do Necat destaca que nos últimos dias os números de casos e mortes atingiram níveis baixos. “A última semana mostrou uma certa instabilidade, mas estamos em torno de 700, 800 casos por dia. E em torno de 11 óbitos por dia”.

Fabrício Menegon pontua que mudanças no cenário de casos e transmissões são normais para uma doença como a Covid-19.

“É natural que existam oscilações quando estamos falando de uma doença que é viral, que ainda tem uma transmissão muito elevada no Estado, como o próprio boletim do Necat mostrou”.

O professor de Saúde Pública lembra, porém, que o vírus ainda está presente em Santa Catarina e vai continuar infectando pessoas.

“Ela vem caindo desde junho deste ano dramaticamente, mas ainda continua infectando uma quantidade razoável de pessoas diariamente, o que é natural porque temos ainda muito vírus circulante no Estado”.

Efeitos da vacinação

Os profissionais frisam que a melhora gritante no cenário da pandemia em Santa Catarina se deve ao avanço da vacinação.

Mas Fabrício Menegon reforça que não é função da vacina evitar contaminações, e isso merece atenção da população e dos órgãos de controle.

“Em que pese a vacinação, que está bem avançada aqui, ainda existe muita gente onde é possível transmitir o vírus. A gente tem que lembrar também que a vacina não protege a gente de ficar doente, o papel da vacina nunca foi esse”.

“Vacina protege principalmente de casos graves, na evolução para caso grave da doença, e óbitos”, explica.

O professor salienta que, em comparação à situação vivida até meses atrás, a realidade atual já mostra um grande avanço.

 “A diferença que nós temos agora de cenário epidemiológico, com o avanço da vacinação, é o fato de que ainda existe uma taxa de contágio relativamente elevada no Estado, mas a mortalidade, que é o pior desfecho, caiu bastante”.

Além disso, ele afirma que por conta da vacina, é quase impossível o caos vivido pelos catarinenses se repetir.

“Aqueles cenários como saturação de capacidade hospitalar, aquelas coisas passaram para a história, isso provavelmente não vai voltar a acontecer, desde que a vacinação continue avançando no Estado e no país como um todo”.

Alta taxa de contaminação “preocupa”

“Quando você discute só o RT, que é o índice de transmissão da doença no Estado, você vai ver que em todas as regiões essa taxa varia de 0,94 a 0,99, sendo que o índice de transmissão no Estado é de 0,97”, informa Lauro Mattei.

“Isso significa que a cada 100 pessoas, elas estão distribuindo a doença pra outras 97. É um índice bastante alto”.

O coordenador do Necat explica, ainda, as diferenças na análise dos boletins emitidos pelo Núcleo com as atualizações do Mapa de Risco.

“O que faz com que a Matriz de Risco fique azul ou amarela, é porque eles consideram vários outros indicadores, como disponibilidade e ocupação de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), que fazem o índice cair para baixo”.

“Mas quando você olha só o indicador que, na minha análise, é o principal, que é a taxa de transmissão da doença, ele continua extremamente grave, perto de 1. O ideal seria que estivesse perto de 0,70”, esclarece.

Matriz de Risco é “falha”, aponta professor

Nesse sentido, o professor de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Menegon, é crítico quanto ao sistema adotado pelo governo do Estado. “A Matriz de Risco do Estado sempre foi muito falha. Ela nunca deu conta de responder rapidamente as mudanças de estágio da pandemia”.

“O fato, e a gente já vem criticando isso há algum tempo, é que ela nunca teve a capacidade de responder imediatamente aos cenários epidemiológicos. Então o que a gente vê hoje, daqui sete dias pode ser diferente, 14 dias pode ser diferente, e assim sucessivamente”.

Na última atualização do Mapa de Risco da Covid-19 em Santa Catarina, divulgado pelo governo no sábado (23), mais duas regiões do Estado melhoraram os índices e foram reduzidas para o risco moderado.

Agora, são quatro regiões classificadas no nível menos preocupante do coronavírus: Alto Vale do Rio do Peixe e Alto Vale do Itajaí, que se mantiveram como na semana passada, e Oeste e Foz do Rio Itajaí, que reduziram o risco no mapa desta semana.

“Dois cenários possíveis”: o futuro da pandemia em SC

“O que a gente pode esperar para as próximas fases da pandemia são dois cenários possíveis”, diz Fabrício Menegon. E ele mostra:

O primeiro cenário: A taxa de contágio vai continuar caindo, como vem caindo desde junho, e vamos ver cada vez menos pessoas transmitindo a Covid por conta do avanço da vacinação no Estado, e aquelas que continuam adoecendo por Covid não vão ter sintomas severos da doença, e pouquíssimas delas vão evoluir para casos mais graves.

“Esse é o cenário possível, e que a gente espera, com o avanço da vacinação”, afirma.

Já o segundo cenário é mais pessimista: Flexibilizar o uso obrigatório de máscaras em ambientes abertos.

“Esse cenário deixa a gente um pouco preocupado, e é o próprio discurso que o governo do Estado fez, e a Prefeitura de Florianópolis comprou”, alerta o professor.

“Isso é algo que nos deixa bastante preocupados, porque flexibilizar o uso de máscara é uma consequência do arrefecimento da doença, ou seja, quando a epidemia está diminuindo, uma das primeiras consequências que a gente observa é você flexibilizar o uso de máscara. Agora, essa flexibilização ela tem que vir acompanhada de monitoramento”, continua.

Na análise de Menegon, uma liberação do uso de máscaras no Estado demanda alta fiscalização e monitoramento, o que não foi feito até hoje.

“Não basta só dizer que vai flexibilizar, se não vai monitorar casos. E isso o Estado nunca fez a contento”.

“O monitoramento de casos ativos em Santa Catarina, e no Brasil como um todo, nunca foi bem feito. Por quê? Porque não existe equipe de saúde para fazer isso. Não tem gente que possa fazer isso a ponto de mitigar o avanço da pandemia quando surgem casos ativos”, problematiza.

Outro ponto destacado pelo profissional é o descuido da própria população.

“As pessoas também, há muito tempo, demonstraram um descompromisso com o distanciamento social. Uma vez liberando o uso de máscaras em ambiente aberto, a mensagem que passa na cabeça do indivíduo é que ele pode deixar de usar máscara”.

“E aí corremos o risco de ter uma reação em cadeia de que os próprios mecanismos de controle e essas barreiras físicas, no caso da máscara, vão caindo, diminuindo, e aí podemos ter uma mudança no cenário epidemiológico”, complementa.

Vacina contra Covid-19 em crianças é “notícia boa”

Dados divulgados na última sexta-feira (22) pela Pfizer apontam que doses da vacina contra a Covid-19 da farmacêutica para crianças de 5 a 11 anos são seguras e apresentaram eficácia de quase 90,7% na prevenção de infecções sintomáticas.

“É uma notícia muito boa o uso da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos”, cita o professor de Saúde Pública.

Ele vê com bons olhos a adoção da medida no Brasil e, principalmente, em Santa Catarina.

“Quem sabe isso seja um cenário interessante para a gente avaliar no Brasil, porque afinal de contas é um grupo que embora seja menor, é muito exposto e também tem alta taxa de contágio para a transmissão de doença, então pode ser outra barreira de contenção da doença que o Estado tenha que considerar”, diz Fabrício Menegon.

 

Fonte: ND
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