TV GC

Memórias vivas – Conservação cultural é eternizada por pioneiros

Pioneiros relembram histórias da colonização de Mondaí

Mondaí - 18/07/2022 09:45 (atualizado em 18/07/2022 09:50)



Após a primeira guerra mundial, a Europa e principalmente a Alemanha, passava por uma grande crise econômica, o que incentivou a população a buscar novas oportunidades em outros países, incluindo o Brasil. A região Sul recebeu milhares de imigrantes na década de 1920, centenas deles desembarcando no Rio Grande do Sul e abraçando a oportunidade de colonizar as terras do Extremo-Oeste de Santa Catarina. Porto Feliz, ou Mondaí, se tornou a porta de entrada para a colonização regional e acolheu as famílias germânicas, italianas, romenas e caboclas, onde formaram colônias de preservação de suas culturas e hábitos.

Como é o exemplo da família de Lydia Lehrbach, de 101 anos, residente em Mondaí, que chegou ao País aos 9 anos de idade, junto de seus pais e mais três irmãos. Natural da Romênia, a família viu na colonização de Mondaí uma oportunidade de construir uma vida melhor, conforme explica Lydia. “Quando chegamos aqui, meu pai gostou muito das terras do Brasil e comprou logo duas colônias. Mas nós, crianças, não gostamos, queríamos voltar. Ele dizia para a gente “meus filhos, agora não está fácil, mas vai melhorar” e como ele falou que ia melhorar, tudo melhorou”, lembra.

A fé que fez com que a família atravessasse o oceano em busca de épocas melhores, guiou pais e filhos nas escolhas feitas nesta terra. Ao chegar em Porto Feliz, Lydia e seus irmãos foram à escola e continuaram aprendendo na língua da colônia onde morava. “Fui na escola aqui, mas tínhamos mais alemão do que português, tanto que eu aprendi a falar português com os meus filhos, não na escola. Os professores eram alemães, porque quase todos eram alemães aqui”, relembra, afirmando a cultura que foi mantida nas colônias alemãs.

Ao lembrar da infância e da chegada ao país, Lydia destaca algo marcante: o frio. Embora na Europa o frio seja intenso, com a região já bem desenvolvida, havia disponibilidade de roupas e acessórios para enfrentar esses períodos. “Naquele tempo, não tinha nada para comprar nas vendas. A minha mãe trouxe roupa de lá, mas não servia para sempre, a criança cresce né, então no frio, quando não tínhamos mais roupa quente, a mãe fazia roupa para nós das roupas dela, porque não tinha para comprar. Foi um período muito difícil”, destaca a pioneira.

A evolução chegou aos poucos em Porto Feliz, com a coragem dos desbravadores foram sendo construídas estradas, igrejas, escolas e as conquistas foram chegando como a:  energia Elétrica, automóveis, disponibilidade de comida e tecidos nas vendas. “Não tinha energia no começo, não era fácil. Quando o pai tinha muitos porcos e carneava um para ter banha e carne, a gente preservava as carnes na banha para não estragar, era a nossa geladeira. Ninguém tinha automóveis, a gente ia caminhando ou a cavalo. Tinha um homem que viajava e trazia comida para as pessoas, para vender nos mercados, arroz, farinha, sal, tudo o que precisa. Como as estradas não eram boas, demorava para voltar, passavam dias para chegar, muita gente já não tinha mais comida, então a gente esperava até ele chegar. Conversávamos com as vizinhas para trocar o que tínhamos, pedir emprestado, até ele chegar”, relembra.




Filho de pioneiro e natural de Mondaí, Ziegfried Bruggemann, de 97 anos, relembra com carinho a história da família e de Porto Feliz. Seu pai participava e atuava socialmente, sendo indicado para assumir como prefeito após a renúncia do prefeito eleito da época. Da infância, Ziegfried lembra que nos primeiros anos de colonização, era tudo limitado. “Aquela vez era puro mato, hoje já está tudo colonizado. Quem conheceu aquela época, hoje não conheceria aqui. Evoluiu muito, muitas conquistas. Na época da guerra, meu pai foi duas vezes preso por ser alemão. Houve invasões de revolucionários que fugiam do Rio Grande do Sul e buscavam cobertura aqui no sertão, e outros vinham para conhecer a região. Eles foram daqui a Dionísio Cerqueira a cavalo, cruzando o mato, porque não tinha estradas, tinha apenas piques”, lembra.

O pioneiro confirma a história difundida na região. A madeira era a principal fonte de renda nos primeiros anos de Porto Feliz, seguida da agricultura.   “Mondaí praticamente vivia da lavoura, tinha muita madeira também. Os madeireiros eram de Carazinho, quando começaram a tirar madeira, embalsar, eles amarravam as madeiras e deixavam na costa do rio esperando a enchente. Quando dava a enchente, levavam a madeira para negociar e vender. O mínimo de altura do rio era com 11 palmos. O ponto de balsa era 15 palmos, pelo menos. Tinha uma estaca enumerada com a quantia da água, para monitorar. Tinha a balsa, que passava e vinha do Rio Grande do Sul, igual hoje”, destaca.

Ziegfried faz parte de uma das primeiras famílias a residirem em Porto Feliz, com influência comunitária e social. O pioneiro pode vivenciar momentos como as primeiras fontes de energia utilizadas na região. “No começo não era fácil, lembro que tínhamos uma geladeira a querosene, era muito melindrosa, tinha que estar cortando o pavio senão não funcionava direito. Depois, o meu pai tinha uma usina, tinha um motor Mercedes Bens que tocava o gerador que fornecia a energia, que começava quando escurecia e ia até as 22h30, dava três sinais e apagava a luz. Todas as famílias tinham dessa mesma energia, quem não tinha era vela e lampião de querosene. A primeira energia elétrica que recebemos foi do Rio Grande do Sul, do Rio Guarita. Fizeram uma travessia, do lado de cá e de lá enterravam altos postes, onde passava a alta tensão por cima do rio. A energia que temos hoje foi toda formada a partir daí”, lembra o pioneiro. Ao formar sua família, Ziegfried não teve dúvidas sobre onde passaria a vida: Mondaí. Lugar onde nasceu, cresceu, desenvolveu sua profissão, conheceu sua esposa e constituiu família. Ele lembra com carinho do passado que o trouxe até aqui. “Eu conheci minha esposa aqui, morávamos no Laju, ela de um lado e eu do outro. Eu tinha uma motocicleta e ia com ela até a travessia do rio, quando tinha pouca água, eu pulava nas pedras para atravessar e ir ver ela, quando o rio estava cheio eu passava de barco. Casamos, tivemos seis filhos, três homens e três mulheres. São diversas lembranças! Eu gosto muito de Mondaí, nasci e quero morrer aqui”, finaliza. 

Fonte: TV Expresso
Envie suas sugestões de pauta para a redação
WhatsApp Business EXPRESSO D'OESTE (49) 99819 9356

Mais notícias

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência.