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Valorização das Raízes – Família conserva próprio acervo cultural de mais de 100 anos

Mais de 200 itens fazem parte do museu da segunda família pioneira de Porto Feliz

Mondaí - 18/07/2022 09:49 (atualizado em 18/07/2022 09:50)


A valorização da cultura germânica é muito presente nas famílias da região Extremo-Oeste. A conservação da língua escrita e falada, que passa de geração em geração confirma o cuidado em manter a chama da pátria-mãe dos pioneiros acesa nas gerações seguintes. A família de Vitor Giehl, de 42 anos, filho de Inge Giehl, de 66 anos, ambos naturais de Mondaí, foi a segunda família a chegar em Porto Feliz e conserva diversos itens e histórias dos antepassados, formando um museu particular com objetos, fotos, documentos e equipamentos que foram utilizados pelos pioneiros e repassados para filhos, netos e bisnetos. Natural do Sul da Alemanha, do estado de Baden W?rttemberg, da cidade de Pfullingen o trisavô de Vitor, Johann Adolf Fritz, sua esposa Marie Wilhelmine Barthold Fritz e suas filhas Anna Fritz e Mathilde Grace Fritz, posteriormente casada Schultheiss, acreditaram na promessa do novo mundo e embarcaram em um navio em direção a nova vida, trazendo pertences pessoais que possibilitariam o recomeço no Brasil.

A bisneta do pioneiro, Inge  Giehl, conta que a chegada da família a nova pátria foi cheia de surpresas. Com a Europa já desenvolvida, a família estava acostumada com condições melhores de vida. “Minha família é natural do sul da Alemanha, e meu bisavô viu um anúncio de uma terra muito próspera, onde precisavam de pessoas com profissões para exercer lá, então ele decidiu vir para o Brasil. Vendeu sua morada, mandou construir quatro baús de madeira para acomodar o que pudessem trazer. Só que minha bisavó e minha avó não queriam vir para uma terra desconhecida, onde elas não sabiam o que ia acontecer, mas meu bisavô decidiu vir, e eles vieram. Meus bisavôs haviam adotado uma menina, que veio com eles também, na época tinha 3 anos. Vieram de Navio, “Dapfer Sierra Ventana” até o Rio Grande do Sul, onde já levaram um choque de realidade com as pessoas simples e humildes, mas foram bem recebidos, inclusive na língua alemã. Eles entraram no trem e estranharam os assentos de madeira, as janelas sem vidraças e apenas com lonas, a pouca velocidade, na Alemanha já era diferente, as coisas eram melhores. Chegaram na nova pátria, em Cruz Alta, onde alugaram uma carroça até Panambi, e perceberam que as estradas eram cada vez mais estreitas e cheias de mato”, destaca.

A adaptação à nova vida e ao novo país não foi fácil. Não havia oportunidade de emprego e nem escolas para as crianças, mesmo com os documentos que comprovavam a profissão exercida na Alemanha e os anos cursados no ensino fundamental. No dia 03 de julho de 1922, Johann Adolf Fritz desembarcou em Porto Feliz, sendo um dos primeiros colonizadores. Com experiência na Marinha, auxiliou nas viagens da embarcação feita de timbaúva no ano de 1922. “Quando surgiu a oportunidade de colonizar Porto Feliz, ele veio, sendo um dos primeiros homens a vir na canoa timbauva. Como ele trabalhava na Marinha na Alemanha, ele tinha conhecimentos navais e poderia contribuir na viagem. Em seguida, retornou para buscar a família, chegando em porto feliz de 21 de janeiro de 1923”, recorda Inge.

FILHO RELATA EVOLUÇÃO DA PEQUENA VILA

Para Vitor, filho de Inge, os dados e objetos são naturais e fazem parte do dia a dia do professor. Ele lembra que, conforme os relatos, cada vez mais e mais pessoas foram acreditando no potencial de Porto Feliz. “A cada viagem da timbaúba, tinha uma pequena balsa que trazia todos os materiais para as construções das edificações em Porto Feliz, cada vez chegavam mais pessoas, geralmente solteiros em busca das oportunidades que eram divulgadas pela empresa colonizadora. É oportuno ressaltar que Marie Wilhelmine Barthold Fritz foi a segunda mulher que pisou no solo de Porto Feliz, hoje Mondaí, enquanto a terceira mulher foi Mathilde Grace Fritz Schultheiss, respectivamente trisavó e bisavó de Vítor. Chegou um tempo que a casa do imigrante e o galpão não eram mais suficientes para abrigar o pessoal, que começaram a se abrigar em cabanas nas proximidades até construírem seus lares, mesmo que temporários”, argumenta.

Inge ressalta que a mãe e a avó incentivavam a conhecer a cultura germânica. Por meio de um alfabeto deixado pela mãe, Igne aprendeu a ler, escrever e falar alemão. “Eu nasci em Mondaí, em 13 de julho de 1955. Sempre morei aqui, fui a escola e aprendi muito com as vivencias aqui, com a minha mãe e minha avó. Meu pai é Erwin Baier, pioneiro da década de 30, que chegou em companhia dos pais Gustav Helmuth Baier e Karolina M?ller Baier, originários de Santa Cruz do Sul, anteriormente residentes no norte da Alemanha em     Schleswig-Holstein am Stetin. Eu casei aqui, com um gaúcho de nome Enio Roveder Giehl que veio para cá a trabalho, formamos nossa família, temos dois filhos e uma neta. Quando eu nasci não tinha asfalto e nem calçamento, as estradas eram todas lamacentas, as crianças iam para a escola caminhando, alguns adultos também. Hoje eu vejo que muita coisa mudou para melhor, as crianças têm transporte perto de casa, lanche na escola, roupas melhores”, frisa.

A alfabetização das crianças fazia parte da rotina das mulheres. Vitor foi alfabetizado pela mãe e pela avó, que o incentivavam a ler e buscar conhecimento.O cenário da infância em Mondaí ficou registrado na memória do professor. Lavouras, potreiros, uniformes escolares, que se transformaram em asfalto e progresso. “Quando eu era criança, ali onde tem a Móveis Henn, eram potreiros. Os grandes bairros não existiam, era estrada de chão, depois passou para calçamento e agora asfalto, é uma evolução constante nestes 100 anos de história. Uma longa caminhada”, relembra.

RICO ACERVO HISTÓRICO

O acervo da família possui mais de 200 itens, que contam histórias da Primeira Guerra Mundial, da crise na Alemanha, da viagem para o Brasil e a continuação da vida aqui, que se entrelaçam com a história da colonização de Mondaí. “Esse acervo que temos conseguimos preservar muitas coisas como louças, livros, documentos, baús, e se preservou porque a família era pequena e sempre foi cuidado com muito carinho. Minha avó foleava os álbuns de fotografia com uma régua, e as crianças só podiam ver, não podiam manusear. Olhando para o passado, percebo que nós damos muita ênfase para os homens e às vezes esquecemos do papel fundamental da mulher na colonização, que além de auxiliarem os maridos nas lidas do campo, tinham o cuidado da educação dos filhos, do trabalho doméstico, repassar a religiosidade, os ensinamentos culturais da Alemanha, as vivencias, sempre houve uma preocupação muito grande nesse sentido, e é por isso que temos esse acervo guardado e todas essas  histórias ainda vivas em nós, inclusive algumas destas histórias estarão inseridas em um dos três capítulos do livro centenário de Porto Feliz, da qual orgulhosamente Vítor é um dos autores, sempre contando com a valora colaboração de sua mãe Inge e de sua irmã Mônica”, finaliza o professor.

Fonte: TV Expresso
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